terça-feira, 12 de agosto de 2014

Oh Captain! My Captain


A notícia da morte de Robin Williams, esta madrugada, deixou-me triste. Este notável ator foi e será sempre, para mim, uma referência no mundo cinema. Relembro com nitidez o impacto da sua voz irreverente “Goooood Morning Vietnaaaam”, frase que deu o nome ao filme, nos finais da década de 90 e a sua versatilidade ao encarnar, de forma inigualável, a figura de um travesti em Mrs Doubtfire, uma comédia que Robin transformou num hilariante momento de criatividade artística.
Na representação, saliento a genialidade dos seus gestos, os célebres tiques que tão bem soube captar e reproduzir e a originalidade que conferia às personagens que vestia.
Quem não se lembra do professor Keating em O Clube dos Poetas Mortos e do célebre “Carpe Diem” que Robin tão bem soube proclamar, demonstrando aos alunos quão importante é inovar para criar. Sou da opinião de que as grandes homenagens se prestam em vida a quem merece. Neste caso, estou de consciência tranquila. Robin Williams é, invariavelmente, um convidado que apresento aos meus alunos, desde há largos anos.

terça-feira, 15 de julho de 2014

A INEVITABILIDADE DO CONFRONTO SOCIALISTA

Quem pertence a uma geração que teve o privilégio de assistir ao vivo e a cores, em pleno coração da adolescência, ao despontar daquela primavera deslumbrante de tons rubros filhos da madrugada de abril e foi cúmplice da euforia, dos encontros e reencontros, dos abraços, dos rostos incrédulos ávidos de liberdade, dos sorrisos rasgados completos de esperança, experimenta, volvidos quarenta anos, um sentimento de inevitável repulsa pela forma como os sucessivos governos contribuíram para a mais humilhante degradação deste país.
Durante todos estes anos, assistimos a uma espécie de jogo de alternância partidária, cujas políticas apontavam, desde cedo, para a construção de uma sociedade europeísta de tipo neoliberal. Na década de 80, tornava-se inadiável um compromisso estreito com a Europa num processo de reestruturação económica e social. Os anos 90 são marcados por uma série de ações com o principal enfoque na globalização em nome de uma política de desenvolvimento da economia local e do bem-estar social. O poder de compra aumenta a olhos vistos, mas o reverso da medalha não tarda. A segunda década do ano 2000 inicia uma demolidora queda da qualidade de vida dos portugueses. Não obstante a existência de mais mão-de-obra qualificada através da imposição da escolaridade obrigatória até aos dezoito anos, o desemprego dos mais habilitados atinge valores perigosamente altos, empurrando-os para um quadro de emigração forçada, refugiados de um país moribundo chefiado pela mais severa incapacidade política e cultural alguma vez presenciada, mas que, paradoxalmente, tem como oposição político-partidária uma esquerda não consensual, ridiculamente dividida por valores pseudoculturais e ortodoxos. O BE desmorona-se a cada segundo, o PCP segue a política do “orgulhosamente sós”, mais parecendo preferir um governo de direita a um entendimento com o PS, os outros…esperamos para ver.
Vislumbra-se, assim, a inevitável continuação da alternância, desta feita com a vitória de um partido perigosamente ferido no seu interior, porque frágil do ponto de vista ideológico e sôfrego de protagonismo, como revelam os resultados das eleições europeias. O PS parece ter, finalmente, acordado do marasmo que o caracterizou estes últimos anos, onde permaneceu num estado de inércia galopante que atingiu o seu esplendor com os discursos imaturos e planos de ação social politicamente inexequíveis do seu secretário-geral.
Costa avança, apoiado pela maioria dos fundadores do partido. Mário Soares garante que vai lutar ao lado dele. Seguro resiste. É uma história que vem de longe. Já na década de 80 Seguro integrava o grupo de oposição a Soares. É a fação rosa contra a fação vermelha…
Quanto a mim, Costa tem sobre Seguro todas as vantagens desde a maturidade política que falta ao adversário à imagem pública. Os dois contam com um longo percurso no partido, nascidos na JS, mas a rivalidade também faz parte da democracia partidária e eles são disso um bom exemplo.

Uma coisa é certa. Ganhe quem ganhar, esta luta é essencial para repor a confiança no Partido Socialista. É uma guerra inevitável porque imprescindível para diluir a ideia da profunda crise que paira sobre as próximas legislativas. 

segunda-feira, 17 de junho de 2013


                     
Pausa...para café.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Memórias eternas



(...) Oito e meia da manhã. O carro do meu pai parou em frente ao portão do Liceu e nós saímos: eu, a Isabel Pimenta e a Siby, a nossa saudosa Siby, companheira de tantos anos!
 Corremos para a vendedora de pevides, que se encontrava, invariavelmente, ao lado do portão da Quinta das Lágrimas. Enchemos os bolsos das batas azuis claras e esperámos pelos colegas que iam chegando.
O dia nascera em tons de abril, doirado, ameno. A Olga Soares e a da Ângela Tavares, duas das amigas inseparáveis da nossa turma do 5º ano, acabavam de chegar. A bomba rebentou e nós ficámos incrédulas perante a notícia fresquinha «houve um golpe de estado esta manhã», disseram elas, em primeira mão! Espalhou-se a novidade e, meia hora mais tarde, o Liceu D. Duarte iniciava uma nova era. As batas voaram com a rapidez de um raio, ao som de um grito conjunto que ecoou das profundezas das miúdas que as trajavam contra vontade…
Os professores choravam e contavam-nos histórias que desconhecíamos até ao momento. Recordo-me perfeitamente de ter ficado chocadíssima ao ouvir (creio que da boca da professora de História) que muitas vezes estávamos sob vigilância durante as aulas «eles escutavam à porta da sala e eu sabia…», dizia ela lavada em lágrimas…(...)

domingo, 22 de abril de 2012

Barrigas e Magriços de Álvaro Cunhal


A leitura do conto “Barrigas e Magriços”, de Álvaro Cunhal, sobre o 25 de Abril de 1974, foi catastrófica. Sem qualquer noção da realidade, o adolescente a quem solicitei a leitura de algumas linhas ria à gargalhada, ao deparar-se com frases proferidas pelos Barrigas humilhando os Magriços, tais como: “Se não tens pão, come palha” ou “Se não tens azeite para temperar as batatas faz-lhe xixi por cima. ”Inacreditavelmente, chegou ao ponto de ficar sufocado de tanto riso ao ler o seguinte passo: “...meteram-nos presos nuns buracos a que chamavam prisões.” O pior é que não estava sozinho. A fila da frente, da qual ele fazia parte, triunfava hilariante!
Fiquei estarrecida! Frente a frente com a estupidez em carne e osso - disso não havia dúvidas - recusei-me a acreditar que houvesse maldade naquela postura. Recusei-me, acima de tudo, a admitir ser cúmplice do crime horrendo que vai criando raízes no nosso sistema educativo: educar uma geração de incultos, de incapazes, de gente que se dá ao luxo de gozar com bons alunos que estudam, que se respeitam mutuamente, que têm objectivos de vida e se sentem, inevitavelmente, injuriados quando forçados a passar horas a ouvir idiotices que os impedem de estarem atentos na aula. 
Ao serem questionados sobre o autor do conto, Álvaro Cunhal, ficaram impávidos. Devia ser um escritor qualquer, do qual nunca tinham ouvido falar.
Um deles perguntou se o texto falava de gente portuguesa, ao que outro respondeu: “Claro, pá, não vês que são os Magriços”? Perguntei-lhe a razão da resposta e nunca mais vou esquecer o olhar dele fixando o meu, o sobrolho franzido enquanto encolhia os ombros em tom de censura: “Os Magriços são a equipa da selecção portuguesa, ou pensava que não sabíamos?
Apeteceu-me desistir. Ansiei pelo toque da saída, angustiada. Enchi o peito de ar e falei sobre a Revolução de Abril, do Estado Novo, da PIDE, entre outras coisas também por mim vivenciadas. Disseram saber muita coisa sobre o assunto, os professores de História estavam fartos de falar nisso, em anos anteriores. Até que enfim, entendíamo-nos, pensava eu, até ao momento em parafraseei o penúltimo parágrafo do texto: “Ouve lá, se tivesses vivido nessa época, com quem estarias tu? Com os Barrigas ou com os Magriços?” A resposta não se fez esperar, em tom convicto: “Com o Salazar”.

Não se assustem, isto foi há 3 anos, se eu voltar a fazer a experiência neste momento...

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A serenidade do bom português


Maria de Lurdes Rodrigues e Isabel Alçada são dois exemplos elucidativos da falta de desvelo dos nossos governantes. Para as duas ministras da educação, a Parque Escolar foi uma mais-valia para os portugueses.
Está claro que o programa de modernização das escolas excedeu, em larga escala, a estimativa apresentada em 2007. A este propósito, Maria de Lurdes Rodrigues afirmou que “nem sempre a transparência”, avalizada pela realização de concursos públicos “é convergente com o interesse público.
Questionada sobre os elevados custos deste projeto, Isabel Alçada declarou que "O custo da construção para as 205 escolas foi, em média, 815 euros por metro quadrado e isto compara bem com o custo de outros países; em média, 1.800 euros por metro quadrado em França e 2.500 euros em Inglaterra, em programas idênticos". Tudo isto, para clarificar que se trata de um investimento barato.
O que será barato para esta gente? Terão as senhoras qualquer noção da realidade do país que ajudaram a desgovernar?
Só quem não conhece, por dentro, as manobras acrobáticas que pautaram as políticas educativas levadas a cabo pelo, então, (des)governo PS, pode dar o benefício da dúvida perante estas e outras afirmações, mas quem está por dentro do assunto desespera perante tanta leviandade.
É claro que a necessidade de reabilitação de algumas escolas era premente. Contudo, escolas há que passaram à margem da bendita reabilitação e em cujas salas de aula a água continua a cair pelas paredes e tecto, não existe qualquer tipo de aquecimento e os alunos se veem obrigados a escrever com luvas. Esta é a realidade de uma escola dos 2º e 3º ciclos e ensino secundário. Outras haverá na mesma situação.
Não obstante, os luxos proliferam ostensivamente nas obras em curso. Dizem as más-línguas que o sistema energético de climatização faz subir de forma exponencial a fatura da eletricidade. Não há dinheiro que sustente tamanho disparate!
E nós pasmamos, impávidos na nossa serenidade de bonecos articulados!
Uma coisa é certa: um país cujos ministros apresentam tão elevado grau de iliteracia económica e financeira e um grau tão baixo de responsabilidade política não é um país, é um caos. 

O Eça ainda por aí


“Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?”

                      Eça de Queiroz, 1867 in "O distrito de Évora"